quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A montanha é alta
Tão alta que a cruz que nela repousa
É um ponto vago
Um acenar distante de saudade

O olhar está em cima
E o desejo
Maior que a vontade maior que a força.

Os pés deslizam
As mãos buscam desesperadamente uma outra mão
Que saia da terra da montanha ou dum milagre.

E a força renasce
E a cruz mais próxima irradia luz
Uma mão de luz.

A montanha é muito inclinada
Mas tem um cimo
E todo o cimo é o consumar do desejo mais íntimo
De estar acima do destino.

A montanha é alta
A cruz no cimo
E flores de edelweiss
Mostraram o caminho.


Viagens ao mundo das montanhas
Lá onde a vida acontece
Onde estremece
Com o vigor dos trovões com o esplendor do Sol.

Montanhas altivas indiferentes mas tão belas
Como formosas donzelas pelas ruas do mundo
A embelezar o mundo
Fingidamente indiferentes ao mundo.

Porque as montanhas nos amam
Porque nos atraem e nos agarram
Porque as adoramos perturbados
No clímax da conquista que nos concedem.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Música

A música…
Que vem dos montes
Das montanhas distantes
Das nuvens que passam
E até do olhar do teu olhar!

Música
A mais íntima vibração que desperta
A mais serena emoção que embala
A mais enigmática ligação que segura.

E corro pela cidade ao som de música
Que me persegue e liberta
Que me embala e desperta
Que me dá caminhos e interroga.

Toda a música
Do sino das Igrejas
Do ecoar dos montes.

Toda a música
Das tuas palavras
Dos teus gestos de amor.

Do mais íntimo do Universo
Emana a música
Que somos.
A semente espreita
Está só


E não nasce

O deserto
É a imensidão
De sementes à espera.
Dezanove degraus
É o que falta subir

Um número inventado
Mas porquê?
Mágico talvez
Mas todos eles trazem a magia
Do infinito das estrelas.

Dezanove degraus
A conta exacta
Para chegar ao ponto
Onde tenho de subir sempre
Mais dezanove degraus!

Todos os números são mágicos
Mas este escolhi-o eu!

quarta-feira, 4 de abril de 2012


Um dois três
Era uma vez
U
M
A
História


Longa
Tre
  men
        da
           mente longa

Vem do longínquo universo
Talvez
Do Sol
Ou ainda

De mais                                      longe

 Escuto em êxtase
O silêncio
U
M
A
História
Dos momentos
Silenciosos
Que nos criaram

E aqui estamos sentados
Sem nada compreender
Mas sorrimos
Perante a beleza
Do sorriso
Que nos chega aos ouvidos.
Hoje foi um dia qualquer
Como todos os dias quaisquer

Entrei e saí para onde já me esqueci
Olhei e remirei para o que nunca mais lembrarei

Foi um dia qualquer
Onde vi as horas que não voltarei a ver
Onde fiz gestos que não aprendi

Entrei e saí
Da vida ou de mim nem sei
Nem dei por isso sequer
Foi um dia qualquer
Que não mais lembrarei.

Contudo foi mais um dia
Que passou…

quarta-feira, 28 de março de 2012


Pedra
A tua voz
Dentro de mim chama
Quando te olho
E silencio a dor
De te ver fria
De te sentir ausente
De não te compreender.
 
Aos meus pés
Não estás subjugada
Nem veneras
Simplesmente ausente
Como fosse outra a dimensão
Em que ris e procrias
Em que um dia também o sonho
Te ajudou a crescer.

Por isso sinto o teu olhar
Quando ausente do que sou
Fixo o para além do horizonte.

Brincava no jardim
Veio a tempestade
A parede ruiu
E nunca mais se viu

Brincava no jardim
Flor do jardim
Que o vento levou

O vento que traz
O vento que leva
Mensageiro do mundo

Ninguém sabe quando vem
Quando vai
Apenas que vem e vai.

Para cima e para baixo
Para baixo e para cima
Rodopiam barcos
Porque todos somos oceano
 E as tempestades acontecem todos os dias
As ondas são medonhas
Para cima e para baixo
Para baixo e para cima
Até ao naufrágio final
Que se anuncia em todas as ameaças de vento
Em todas as ameaças de tormento
Em todas as ameaças
Em todos os momentos
Porque vivemos no oceano
E estamos permanentemente
Para cima e para baixo
Para baixo e para cima.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Pensar ao acaso
Deixar os sentidos adormecer
E as nuvens que cobrem o céu
Descerem até ao olhar
Que se abre muito
Que se espanta muito
Envolto em nuvens
Dum céu profundo
Onde apenas flutuam pensamentos
Ao sabor do vento
Serenamente vagarosamente
Deliciosamente!

Deixar o pensamento viajar
Com as nuvens dum céu infinito
Milhões de quilómetros de olhos fechados
Sem cansaço
E sem nunca ter de chegar!
Parado na estrada
Atravessado na estrada
Perdido de direcções

Devia haver setas
Mas para além dum risco negro
Toda a Terra assustadoramente redonda
Se oferecia igual

A estrada era longa
Vinha de algures ia para não se sabia onde
Olhar no chão
Braços a apoiar a cabeça
A questionar o centro da Terra
Para onde convergem as forças
E quiçá todos os caminhos.

O centro da Terra
Tão impossível
Como o centro do Universo!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sobe monte desce monte

Desce monte sobe monte
Sobe monte desce monte
Sobe sobe sobe sobe
E o olhar espraia-se

De braços abertos
Com a amplitude dos moinhos
Abraço o mundo
Respiro fundo
E sinto-me bem.

                                       Palhaço
De pijama às riscas entra no palco
Como na cama
Sem vontade de rir
De olhos pesados e passos aos soluços.
Mas vai excitado
Para o palco
De pijama
Como se fosse para a cama
Sem vontade de dormir

 No palco saltam bolas
 Arcos e gargalhadas
 Tudo num grande atropelo
 De cabeça agarrada
 O palhaço está na cama
 A viver um pesadelo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Um traço na areia molhada
Uma fronteira que surgiu súbita
E arrepia e mete medo
Olho e hesito
Do outro lado já não sou eu
E falta-me a confiança
O que vejo é areia
Mas o que não vejo não sei
Está do outro lado
Talvez a olhar-me
E a ter medo
Um espelho talvez
Do outro lado do espelho
Propaga-se infinito o enigma.

Um traço na areia molhada
Dou a volta a mundo
Para descobrir o outro lado.
Compras ao acaso
No mercado da vida
A avidez de possuir
De nos sentirmos donos
Mesmo de coisas frágeis voláteis inúteis

É absolutamente necessário comprar
O que está à venda e o que não está
O que é útil e não é
O que está morto ou ainda não nasceu
É absolutamente necessário comprar
Ter possuir escravizar
E sobretudo gritar bem alto
Do cimo das cidades dos montes dos oceanos
Eu tenho!
Eu tenho no bolso um pedaço de mundo
Um pedaço desse imenso mistério
Que é o mundo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Inverno

Na árvore despida
O pássaro espreita
O inverno que passa

O inverno no lago
Os peixes quietos
Esperam que parta

As flores espreitam
O Inverno ainda está
E não abrem
Vogar com a noite
Ao sabor da escuridão que oscila
Num vaivém de sombras e estrelas
De silêncios e de rugidos que arrepiam

Dançar com a noite
Por entre florestas que baloiçam
Ao som das marés que não se cansam
Abraçado às promessas de um novo amanhã
Enleado no amor que as estrelas incendeiam

Viver com a noite
Nas ruas apertadas e silenciosas
Nos bosques nos vales à beira de regatos
De olhar postos no céu que ilumina
À espera sempre à espera dum qualquer sinal.
Pensei um dia fazer uma grande viagem
Até aos sítios distantes que a memória não lembra
Apenas um cheiro vago um hálito familiar
Como se já tivesse sido vivido respirado amado

Sítios onde nunca estive mas me chamam
Com uma voz que parece que conheço e me é querida
Como se com ela tivesse trocado promessas e desejos
Como se neles tivesse um dia vivido e sido feliz

Procuro nas viagens a terras onde nunca estive
O gesto familiar o rosto amigo o recanto segredo
Porquê não sei nem pergunto nem me assusta
É no mais íntimo do ser que reside a história de todas as origens.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Na rua fechada aos carros
No centro da cidade
Passa gente apressada
Gente a olhar
Gente sem fazer nada
Mas no meio da rua
Há malabaristas
Flautistas e guitarristas
Ou simplesmente gente de mão estendida
Grandes cartazes a explicar o óbvio
A falta dum projecto de vida
A impossibilidade de uma vida
Que possa descer a rua
Que possa subir a rua
Apressada ou a olhar
Ou simplesmente sem fazer nada.

Inverno

Canta um pássaro
Na árvore despida
De Primavera

Voam rápidos
Os pássaros
Resistem ao frio

Inverno de Sol
O rosto frio
Acalorado

Entre as árvores
O inverno
É mais íntimo

Junto ao mar
O inverno
Repousa