terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma embarcação no mar
A tempestade que desaba
As lágrimas que inundam.

Gritos na praia
Silêncio no mar
Demasiado silêncio.

Barcos no mar
Gaivotas na areia
Não ousam.

Vagas esbranquiçadas
O vómito do mar
Que engoliu homens.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma cesta de papel
Cheia de histórias
A embrulhar maçãs

Pontas de cigarro
Incendeiam o chão
Das folhas agonizantes

O pescador apaixonado
Persegue a presa
Até ao fundo do mar

Noites frias
Despedem os sem abrigo
Das suas sombras

O caminho é longo
O mar ao longe
Nunca se cala

Faz muito vento
As árvores apavoradas
Batem os ramos e partem

A espiral de vento
Leva os telhados
E todas as certezas
Pintaram o muro de branco
A bicicleta passou veloz
E raspou.

O muro protestou
Era branco não riscado
A bicicleta protestou
Era azul metalizada.

Passam testemunhas
Que começam a discutir
A parede queixa-se
Da bicicleta riscada
Por sua vez angustiada
Na sua pele maculada.

O culpado quem seria
De tanta desventura
O Homem que pinta o mundo
Ou quem nele se aventura?
Vagarosamente
Os dias passam.

Há risos pelos caminhos
Crianças nas escolas
Ou piadas de rapazolas
A rua enche-se de cor
É inverno mas as flores espreitam

E há o frenesim dos estádios
Os gritos histéricos da multidão
As praças cheias de gente
Os centros comerciais

E os dias passam
Vagarosamente
Indiferentes
Como os rios.

Quando chegam as tempestades
As águas
Devoram as margens.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Todos os dias sentado nas escadas
Jornal na mão um olhar distante…

Logo ao Sol nascer
Sentado nas escadas
A ler o jornal
Indiferente a quem sobe e a quem desce
A quem olha e não olha

Todos os dias
Excepto quando chove
Não lhe conheço o refúgio
Dele e do jornal
Quando chove…

Ele e o jornal
Nas escadas frias
Dum Inverno de solidão.
Pintam as ruas de cores garridas
Mensagens de cor em paredes esburacadas
Palavras ambíguas e distraídas
Disfarçam gestos de raiva e interrogação

As paredes pintadas pelas ruas
Com grandes traços a conter enormes monstros
Apelam ao olhar pedem explicações
A quem passa todos os dias sem parar

Correm miúdos de pincéis nas mãos
Escapam-se dos que vigiam dos que perseguem
Procuram o refúgio nas paredes
E pintam nelas as palavras onde se escondem
E espreitam…