sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Alguém interroga o passageiro
Vai só num navio enorme
Uma cidade que flutua como todas
Por baixo um imenso oceano de mistério

Porquê viaja naquele barco?
Porquê segue aquele rumo?
Porquê olha nostálgico para o muito longe?
Porquê perder-se nos festins que tudo ocultam?

As respostas são o marulhar das ondas
Um silêncio de quem nada sabe ou tudo receia
A profundidade do oceano a fragilidade da embarcação
A que somos a que nos conduz a que nos envolve

A cidade no centro à volta nada
Como todas as cidades carregadas de passageiros
A deambular pelas ruas num frenesim de gestos
A inventar respostas que não compreendem.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

À porta do café
Olha quem passa e espera
Por nada
Com um olhar que espera o mundo

Um cigarro
Um olhar fortuito

Na avenida ninguém pára
Na vertigem dos passeios cheios de gente
Com destino
Ou ao sabor do destino

À porta do café
Está só
Um cigarro que se apaga
Cai a noite
E a porta fecha-se
E o mundo

E parte
Para sítio nenhum

À porta do café
Um círculo de gente
No meio
Um espaço vazio
E um cigarro abandonado.

domingo, 18 de outubro de 2009

Rastejando
Uma cobra procura esquivar-se
Para longe de todos os homens
Venenosos.

Dança em malabarismos de paixão
Um cobra à beira do rio
Vê homens e foge
O paraíso está ameaçado.

No silêncio da noite
Uma cobra rasteja vagarosa
As luzes explodem e refugia-se
Na escuridão eterna duma qualquer gruta.

domingo, 4 de outubro de 2009

Desastres

No fundo do oceano
Deslizam montanhas
O mar foge para terra

Pia um pássaro
A árvore treme
O mar aproxima-se

Um lago revolto
Esconde o jardim
Do primeiro beijo

Rostos inexpressivos
Impreparados
Para compreender

Os animais fogem
Os Homens fogem
Fica o mundo