segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dançou com o vento
Num gesto de amor
Ardente

E rodopiou enlouquecido
No cimo duma torre
Numa vertigem de desejo

Olhou os pássaros
E ao fundo o mar
E sentiu paixão

Pelo que mexe
Pelo que vive
Pelo que é frágil

A fragrância duma cor
Arrastada pelo vento
Abraça-o e segue

E ficou a dizer adeus
Numa montanha qualquer
Para o grande amor que partiu.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pontapeei uma pedra
A parede levou uma pancada
Mas não abriu nem uma fenda

O pé ficou dorido
O sapato desfeito
A parede altiva

Soquei a parede
Penso que estremeceu
Mas não abriu nem uma fenda

A mão ficou dorida
Os dedos em sangue
A parede altiva

Olhei para a parede
Com a força do sonho
E a parede desfez-se.
Salta para o palco imaginado
E abre os braços a encenar discursos
Só ouve palmas numa plateia que ferve
Na ânsia de se descobrir nas palavras que inventa

E o discurso arrasa todos os sonhos
Chama pedras às pedras dor à dor
Mas as pessoas aplaudem libertas
As palavras ouvidas são as que desejavam gritar

No palco em pé não pára de gesticular
Apóstolo mensageiro ou louco
Todos os que passam sentem arrepios
Ao descobrirem-se reflectidos no palco.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O tempo passa
Os relógios quebram-se
Ficam os rios

Pedras deslizam
A montanha chora
Lágrimas de terra
Jacinta, 27 anos, cega, surda-muda

Olhar perdido na profundidade da noite
Todas as estrelas estão ausentes todo o sentido
Todo o canto está ausente todo o sentido
Apenas o ser vibra com o arrepio da aragem

Absolutamente perdida num universo de mistério
Há corpos que vibram que tocam que chocam
Sinais de que se não está absolutamente só
Outras galáxias outros sóis outros seres

Está no centro de tudo que se agita e treme
Que emite sinais que são códigos que são ordens
Os deuses estão presentes no cheiro na vibração
Surda aos gritos cega aos gestos mas desperta ao chamamento
O oceano à minha frente
Uma criança a brincar

A areia
Na praia ou no deserto
Afunda

Todo o meu ser se afunda na areia
Os passos
O olhar
O pensamento

O oceano à minha frente
Uma criança que brinca
Com um moinho de vento

À beira-mar faz sempre vento
E pelo relevo das dunas
O meu olhar ondula ao ritmo do mar

Uma criança brinca na praia
No balde esconde o mar.

sábado, 3 de abril de 2010

Todas as vitórias duram pouco
Instantes de glória fragmentos da vida em júbilo
Depois vem o mar a matéria negra invisível misteriosa
Em que se navega à procura de novos desafios

O homem não descansa em feitos consumados
Tem a ânsia do além do que está longe e se persegue
É o desconhecido que é a mãe de todas as vontades
Da insaciável avidez de viver na aventura

E até a morte é o derradeiro gesto do aventureiro.