quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Espero um pouco à porta da rua
Passam velozes muitas vozes
Passam velozes muitas buzinas
Passam velozes vizinhas
À porta de todas as vitrinas

Por cada coisa que passa
Abro a boca fecho a boca
Veloz sem nada poder dizer
Nunca há tempo para alguém responder
Passam velozes todas as vozes
À porta da rua um vendaval

Tento ser rápido e antecipar-me
E começo a gritar
Quem vem longe olha
Mas veloz vai-se o olhar
Passam velozes os que olham
Nunca se fixa o olhar
À porta da rua espero
Sem nunca ninguém chegar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Num gesto repentino de poeta
Solta as amarras de todas as palavras
Que em catadupa jorram e invadem
O espaço em branco dum ecrã

E nesse espaço em que as horas não contam
O sono se vai mas os sonhos ficam
O que está para além de todas as palavras
Aflora e espreita tímido inquieto

E no jardim imprevisto das palavras
A flor mais singela desabrocha.

domingo, 14 de novembro de 2010

Pintaram as caras
Riram ao espelho
Correram pela cidade
Tocaram às campainhas
Assustaram as vizinhas
Espreitaram pelas janelas
Arrepiaram as donzelas.

Ao fim do dia
Puxaram as máscaras
Mas a tinta não saiu…

Olharam assustados
Viram muitos traços
Um riso de palhaços
Uma embarcação às cores
Deambulando pelo rio
Sem destino
A correr pelas ruas
A encalhar na indiferença
Dos que fugiam
Dos que troçavam
Dos que não olhavam.

Caras pintadas
De todas as cores
Só têm lugar
Ao pé das flores!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uma página dum livro por ler
E o tempo passa
E a página à espera…

Um grande história
Por ler
O tempo passa
E a página
Esquecida no meio do livro
Ficou
Como as areias do mar deixadas em terra
Como os grãos de poeira que o vento esqueceu
Longamente à espera
De outras mãos
Outro olhar
Outra curiosidade
A história é importante
Como todas as histórias
Em páginas de livros
Mas tem que esperar
Como as sementes
Esperam
Para desabrocharem em flor.

domingo, 7 de novembro de 2010

Raios de luz

Raios de luz
A intensidade do mundo a despertar o pensamento
A incendiar as ideias
Tornadas labaredas
Que atravessam o mundo
Como a luz
Como o fogo
Vitais e estranhas
Porque alienígenas
Mas omnipresentes em nós e fora de nós.

Raios de luz
Não há óculos que protejam
Do grande Sol que nos inventou
Para se alimentar
Com os nossos pensamentos
Em labaredas de delírio.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pedras

Um mundo povoado de pedras!

As que aqui existem
As que noutros planetas se adivinham
As que em fogo atravessam o universo
Não têm qualquer poder ou ambição
Limitam-se a estar com a eternidade no olhar
Não revelam segredos
Não questionam segredos
Deixam-se simplesmente abraçar.

As pedras espalhadas no Universo
São as mensageiras dum amor que ninguém decifra.