domingo, 26 de setembro de 2010

Colibris

Tremem as flores
Ainda surpresas
Pelo beijo que já passou

As asas vibram
As flores tremem
O bosque arfa

Voos velozes
Vorazes vaidosos
A vertigem do êxtase

Mensageiros dos deuses
Segredam às flores
Histórias de homens.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Percorro inquieto o deserto sem fim
Um solo lunar numa aridez que não compreendemos
Os caminhos são pedras esquecidas
A areia e o vento os senhores dos dias

Todo o meu corpo se sente estranho
Nenhuma vida espreita nada que possa morrer
Confrontado com o silêncio árido do deserto
O corpo pressente o frio gelado do que é eterno

Mas o olhar é atraído o corpo agarra-se
O vento pára o horizonte dissolve-se
E o deserto por uma vez levanta-se e caminha
De mãos dadas comigo a descobrir o Universo.
No cimo da montanha avista-se o mundo
Mas o caminho é estreito e atravessa a floresta
Das escarpas imensas

Do outro lado há um templo
Sempre um templo a exigir o suor
De trepar sempre de encontro à chuva ao vento às ravinas

E uma longa fila de peregrinos da natureza
Caminha lenta sofrida exausta
Puxada por uma corda invisível lançada pelas montanhas.
Crianças vestidas de cores garridas
Lamas enfeitadas com laços
E uma enorme doçura no sorriso
A enlear em feitiço o turista que passa

E são mais umas moedas
E mais umas fotografias
E a lama parece que ri e a criança fica séria
Tem a noção exacta do que é o trabalho

Em cada ponto das montanhas encantadas
Onde se pode ver vales profundos e o céu tão perto
Correm pela estrada miúdos engalanados
Com a ternura da infância e um olhar que suplica.