terça-feira, 29 de março de 2011

Primavera

Árvores despidas
Cravadas de flores
Apressadas.

Prados verdes
Salpicado de flores
Apressadas.

Primavera tímida
Desperta o desejo
Nas flores adormecidas.

Janela

Uma janela fechada
Um rosto vislumbra-se
No ondear das cortinas.

Uma janela meia aberta
Um rosto semiescondido
Uma verdade semi revelada.

Uma janela aberta
Um rosto espreita
E oferece-se ao mundo.

domingo, 27 de março de 2011

O combóio passa a alta velocidade
Perde-se atrás dos montes dissolve-se na neblina
As carruagens vão cheias de gente
Destinos entre dois carris que se perdem no horizonte.

Silva o combóio através dos montes
Luzes que encandeiam nuvens que escondem
São as paisagens deslizantes aos olhares que interrogam
Passageiros que um dia tiveram de partir.

O combóio sai de uma estação
Quem fica não conhece o seu destino
São duas linhas paralelas e um grito estridente
Lá dentro uma multidão de olhos arregalados
À descoberta do mundo.

Hospital

Na cama dum hospital sem tempo
Onde se sofre onde a dor não tem fuga
Onde a esperança definha a cada tortura
Os Homens lutam resistem protestam
Contra a dor contra a fragilidade contra a natureza
Contra os dias frios as tempestades
Contra os tormentos as inundações
Contra as injustiças as frustrações
Contra toda as afrontas ao ser humano
Ao mais íntimo do ser humano
Que rejeita a dor o sofrimento a morte
Que quer outra coisa que não sabe o que é
Não é a vida a eterna
Não é a felicidade eterna
Não é a saúde eterna
É qualquer coisa que não se sabe o que é
Que transcende todas as fronteiras do ser
E se digladia feroz contra as grades
De uma cama de hospital.

domingo, 20 de março de 2011

Primavera

Dias de Sol
Chega a Primavera
E a vontade de caminhar

Que bom o Sol
Espreguiçam-se os corpos
Aquece a alma

O olhar
Na Primavera
Floresce de novo
Um elástico nos lábios
Sinto uma vibração que ecoa
Uma melodia que se insinua
Uma voz que sussurra

A voz do elástico a tocar os lábios
Quiçá a beijar os lábios
Tenso alongado
A desfazer-se em melodia

Ou talvez a revelar segredos
Do mais íntimo dos corpos
Do mais ínfimo dos músculos
Do mais universal dos objectos

As cordas que vibram
A construir universos.

terça-feira, 15 de março de 2011

As cinzas dos vulcões deslizam
Demolidoras
As águas dos tsunamis escorrem
Devastadoras
As ondas dos sismos vibram
Devoradoras
As nuvens dos tufões rodopiam
Arrasadoras…

As forças do Universo
Em guerra
Com o Universo dos Homens.

Japão

Olhares rasgados
Trémulos incrédulos
Inundados de água
Imersos em água
Rasos de água.

E um medo surdo
Que vem do inacessível
Do interior da terra
E da poeira
Arrastada pelo vento
Todos os fantasmas da morte
Dançam sobre os olhos
Inundados de água
Náufragos da vida.

Naquela terra distante
Os que estão vivos
Caminham em silêncio
Submissos ao destino.

domingo, 13 de março de 2011

Absurdos

O ser humano
Vive no absurdo
Alimenta-se do absurdo

O absurdo
Assusta e desperta
Aniquila e revigora

No início do caminho
Cada absurdo
Um desafio

No meio do caminho
Digladiam-se certezas
E absurdos

No fim do caminho
Os absurdos
Juntam-se a nós.
Num instante puro
A terra tremeu
E o oceano invadiu a terra
E uma central nuclear explodiu
Num instante puro
As horas tornam-se séculos
E a vida esgota-se nos breves momentos
Em que desperta.

Tsunami

Onda gigante imparável devoradora
Nenhuma forma humana se lhe pode opor.

E as casas os barcos os comboios
As praias as flores a planície
Todas as fragilidades que o homem ama
São arrastadas com ele para o nada
Montes de lama de sucata de lixo
Tudo o que somos a girar no espaço
Frágeis como os planetas e as estrelas
Devoradas pelos imensos buracos negros
Devorados pelas gigantes marés brancas.