segunda-feira, 22 de junho de 2009

Praia

No calor da areia
Corpos escaldam
A olhar o mar

Crianças junto ao mar
Aprendem a brincar
Com o efémero

A criança berra
A mãe acorre
O pai olha o mar

Uma criança negra
Brinca com o Sol
Numa amizade antiga

Mãos dadas na praia
Deitados à sombra
Iludem o tempo

Sonhos de viajante
Numa pequena bóia
A enfrentar o mar

Praia

Gente à beira mar
Languidamente a olhar o mar
A sentir o Sol
Deitados ao abandono
Entregues à areia aos sons do vento
Ao ondular da maresia
De olhos semi-cerrados
De mãos dadas
De cabeças juntas
Ou sós
Debaixo de chapéus de cores
E entregues ao ipod
Mas sempre entregues ao Sol
O que acarecia
Que se devia temer mas se ama
Porque faz sentir bem
Porque aquece
E as mãos estão frias
Ávidas de apertar o calor
E abrem-se
E espreguiçam-se
Corpos ao Sol
Entregues ao mar
Junto da areia
À beira do mar
Entregues ao Sol
Entregues ao abandono

O dia termina
Como num sonho
Ficam as marcas quentes
Dum abraço
Que nuncas se deu.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Donaña

Planícies ressequidas
Um cavalo morto
Espera pela enxurrada

Nos campos ressequidos
A vida cavalga
Sobre cavalos mortos

Um coelho olha
Uma cegonha olha
Os turistas olham

Passa o carro
A ave que medita
É desalojada pela olhar

Levanta voo
No céu perde-se
A ave que dormitava

Na planície ressequida
Cheira-se o mar
Anseia-se pela água

Dunas

Longos areais refugiados entre dunas e mar
Uma garganta estreita um rio de aragem
Na areia passos e conchas e dedos frágeis
E um enorme espreguiçar de olhos no Sol

Caminhos escondidos dos mundos urbanos
Refúgio das sirenes gritos e ameaças
Recanto de mar e dunas amarelecidas
Fronteiras frágeis com a ternura do abraço

Caminham na praia entre dunas e mar
Corpos de lama areia água e Sol
Caminham na praia vestidos de Universo
Caminham na praia pedaços de Universo.

sábado, 6 de junho de 2009

Noite

Só ao pé das estrelas
De braço dado
Tímido
Arrebatado

É noite

Um silêncio de aragem
Luzes distantes
E o céu
Enorme
Meu

Carreiros insinuam-se
Reflectem a luz
Espelho de estrelas
Ao fundo
A noite

O encanto da noite
A desvendar estrelas
E eu
Só com elas
Enlaçado
Adormeço

Terra

Planeta louco a girar de espanto
Verdes luxuriantes e a vontade imensa de viver
Uma embriaguês de sentidos!

Um sinal de fogo no distante
Gritos de fendas a abrirem-se
As árvores tombam com estrondo
O céu perturbado rodopia e arrasa

Os homens são arrastados
E a terra a fértil terra escorre para os oceanos
Os desertos crescem e o fogo
Os prédios crescem e a fome

Planeta verde de sonho e vontade
Os homens chegaram de algures vão para algures
No chão as ruínas
De sonhos nunca satisfeitos