terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sem respostas
Interroga a parede
Pichada de sinais

Segue as linhas
Penetra nas cores
Continua branco

Olha com insistência
Esboços de curvas
Rostos cativos

E soletra palavras
Dispersas perversas
E fica atordoado

Esbarra na parede
Interroga os graffitis
Não encontra a porta.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Desceu a serra
Era pastor

Olhava o horizonte
para lá do verde
Uma fronteira
Que não interessava

Era pastor
Chegaram as auto-estradas
O verde partiu
O gado partiu

Era pastor
A flauta partiu
A melodia são os carros
Na auto-estrada

Era pastor
O gado partiu e o verde
Desceu da serra
Morreu na auto-estrada.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Tempo de Natal

Tempo de Natal
Vagueio pelo bosque
Das árvores iluminadas

Tempo de Natal
Tropecei no outro
Dei-lhe um beijo

Tempo de Natal
Árvores iluminadas alegram
O abrigo dos sem abrigo

Tempo de Natal
Um embrulho de promessas
Sempre recicladas

Tempo de Natal
No intervalo da guerra
Disparam-se rolhas de champanhe

Tempo de Natal
À volta da chaminé
Adora-se o fogo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Relógio parado
Esgotadas as pilhas
Estagnou o tempo

Relógio no pulso
Exibe-se pela rua
O tempo numa gaiola

Vejo as horas
Vejo quem passa
Adoro acasos.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dançam as folhas
Na vertigem do Outono
O canto dos cisnes

A cor das árvores
É a do fogo
Na última explosão

A neblina persiste
Por detrás da cortina
As árvores despem-se
Uma pedra no caminho
Conduzia ao paraíso
Perdeu-se na interrogação

Duas pedras no caminho
As incertezas crescem
O mundo divide-se

Três pedras no caminho
Arremessadas ao vento
O início de todas as guerras

Quatro pedras no caminho
O branco das sepulturas
O silêncio do princípio.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Lama e suor
Dispersos pelo chão
Germinam paraísos

Soltam-se as amarras
O barco parte
A liberdade fica

Neve das montanhas
Deslizam até às faces
Frias da cidade.

Partiu-se um prato
O estrondo
Descobriu vizinhos.

O cão ladra
Para a rua deserta
Sente-se só.

Bate um portão
Ouvem-se passos
A janela ficou vazia.

Papeis rasgados
Aborto clandestino
De poemas viáveis.

domingo, 29 de novembro de 2009

Pintura

Uma tela vazia e uma imensa vontade de gritar
E os gestos lançam-se na aventura de cores inventadas
E uns olhos semicerrados sonham paisagens de revolta
Ou simplesmente orgasmos de vida em estertor de sofrimento.

E nascem manchas riscos talvez direcções
E olhos terrivelmente abertos mãos que tudo dominam
Sobre a tela nascem monstros ou fantasmas ou homens
Sempre vulcões a escorrer em cada fragmento de cor.

Telas penduradas pelas parede duma qualquer exposição
Traços manchas cores dramas exaustos e adormecidos
Despertam em quem passa uma vaga inquietação
A do reencontro com aquele olhar que já se suspeitava que existia
Algures no mundo fugido de nós algures no tempo.
Bato numa pedra
Rogo uma praga
O caminho endurece

Oiço queixumes
Por detrás de paredes
Transparentes à dor

Gritos na rua
Ninguém olha
A violência alheia

Tremem as mãos
O frio passou
Mas a dor não

Olhar angustiado
Para o extremo da rua
Os passos perderam-se

Passos interrompidos
Velhos nas passadeiras
Não chegam a tempo

Junto a uma parede
Num dia sem luz
Confia na sombra

Num quarto isolado
As janelas fechadas
Escondem o mundo

Uma bola nas mãos
O prazer de jogar
O mundo.

Outono

Outono profundo
As folhas almofadam
A chegada do Inverno

No jardim abandonado
As flores fogem
À tempestade

Dias cinzentos
As roupas escuras
Reflectem o céu

Faz frio na rua
O mio do gato
Gela os ouvidos

Praias desertas
O vento e a chuva
Brincam nas ondas

Ruas molhadas
Os pés escorregam
As crianças patinam

sábado, 21 de novembro de 2009

Seca

A terra está seca
Os animais olham inquietos
Os homens sofrem a fome
Dos que não têm pasto
As nuvens partiram
Os animais olham
Os homens
Olham as nuvens
E sofrem a fome
Dos que ficam
Perdidos num deserto
Olhares que definham
Esqueletos adivinhados

Não chove
A água das nascentes
partiu com as nuvens
Os animais deitam-se
E esperam
Que o deserto os devore
Os homens partem
Com as nuvens
E com a fome.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Palavras ao acaso

Ditas ao acaso
As palavras
Disparam sem previsões
Nem ilusões
Fingem construir mundos
Mas apenas para rir
Fazer troça
Das palavras ditas ao acaso...

Como o mundo
Que ao acaso
Finge construir sentidos
Grandes projectos
Apenas para rir
De quem acredita ser possível
Um mundo com sentido

Não há sentido na lutas das estrelas
No céu atravessado por meteoritos
No vórtice dos ciclones
Na terra que treme e levanta o mar

E por isso as palavras ao acaso
São verdadeiras
Mas desprovidas de todo o sentido
Apenas para rir
Ou seriamente
Tentar ser mundo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Alguém interroga o passageiro
Vai só num navio enorme
Uma cidade que flutua como todas
Por baixo um imenso oceano de mistério

Porquê viaja naquele barco?
Porquê segue aquele rumo?
Porquê olha nostálgico para o muito longe?
Porquê perder-se nos festins que tudo ocultam?

As respostas são o marulhar das ondas
Um silêncio de quem nada sabe ou tudo receia
A profundidade do oceano a fragilidade da embarcação
A que somos a que nos conduz a que nos envolve

A cidade no centro à volta nada
Como todas as cidades carregadas de passageiros
A deambular pelas ruas num frenesim de gestos
A inventar respostas que não compreendem.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

À porta do café
Olha quem passa e espera
Por nada
Com um olhar que espera o mundo

Um cigarro
Um olhar fortuito

Na avenida ninguém pára
Na vertigem dos passeios cheios de gente
Com destino
Ou ao sabor do destino

À porta do café
Está só
Um cigarro que se apaga
Cai a noite
E a porta fecha-se
E o mundo

E parte
Para sítio nenhum

À porta do café
Um círculo de gente
No meio
Um espaço vazio
E um cigarro abandonado.

domingo, 18 de outubro de 2009

Rastejando
Uma cobra procura esquivar-se
Para longe de todos os homens
Venenosos.

Dança em malabarismos de paixão
Um cobra à beira do rio
Vê homens e foge
O paraíso está ameaçado.

No silêncio da noite
Uma cobra rasteja vagarosa
As luzes explodem e refugia-se
Na escuridão eterna duma qualquer gruta.

domingo, 4 de outubro de 2009

Desastres

No fundo do oceano
Deslizam montanhas
O mar foge para terra

Pia um pássaro
A árvore treme
O mar aproxima-se

Um lago revolto
Esconde o jardim
Do primeiro beijo

Rostos inexpressivos
Impreparados
Para compreender

Os animais fogem
Os Homens fogem
Fica o mundo

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Na sombra do bosque

Na sombra do bosque
Mãos dadas furtivas
A brisa aquece

Na sombra do bosque
Pés brincam com pés
As folhas agitam-se

Na sombra do bosque
Ouve-se um beijo
Estremece uma flor

Na sombra do bosque
Os pássaros cantam
E a relva ondula

A propósito de uma peça

A voz sempre a voz...
Canções de desespero e morte
Canções de pura loucura de viver
De raiva e sangue de ódio e amor
Sobretudo uma voz que ecoava mais alto

Edith Piaf dos bairros sórdidos
Dos hotéis de luxo cheios de solidão
Uma mágoa que cresce uma insatisfação
E a voz que se eleva de protesto e raiva
A voz que uma multidão aplaude
As lágrimas que correm desencontradas
A voz a voz a voz e a solidão

E o amor
Ou a vontade tresloucada de amar
Uma vingança ou um hino à vida
Cantado sobre um palco
Enleados num palco
A voz a vida os corpos

E a solidão
Esquecida em garrafas vazias
Numa voz enrouquecida
Em garrafas vazias
Trôpega
A atravessar todos os palcos
Da vida dos homens das multidões
Até ao fim.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Correm rápidas as águas do ribeiro
Agarram o olhar e rodopiam com ele em danças de frenesim
Uma orgia de sentidos uma corrida sem destino
As águas do ribeiro não sabem para onde vão

Mas estão felizes assim parecem
Brancas espumosas fortes e alegres
O desafio é vencer todas as barreiras
E afirmar com todas as certezas o caminho a percorrer

Talvez o mar seja o fim
Ou um simples lago perdido no nada
Pouco importa se a vida foi uma orgia
Embriagada em espuma a vencer barreiras a conquistar olhares.

domingo, 13 de setembro de 2009

Noite

Caminhadas na noite sem estrelas
Muitos passos e vozes mas um tremendo silêncio
O que um Universo adormecido grita
Aos ouvidos de quem escuta e se deixa embalar

Caminhos apertados descobertos por lanternas
Estavam escondidos adormecidos no meio do bosque
As pedras resvalam despertas e amedrontadas
Soam a guerra os passos ritmados da multidão que passa

Noite sem Lua nem estrelas
Mas de uma luz suave a adivinhar auroras
As pilhas fecham-se os olhos abrem-se os lábios cerram-se
Momentaneamente homens e natureza comungam a noite.

Noite

Passeios nocturnos
A multidão que passa
Silencia a noite

Noite sem estrelas
Homens deambulam
À procura do Norte

Bosques escuros
Escondem os caminhos
Que os Homens procuram

Nos caminhos escuros
Tropeça-se nas pedras
Resvala-se na realidade

Na noite cerrada
A sombra das árvores
Aproxima o céu

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Noite

Noite de estrelas
A via láctea canta
Nos ralos da noite

A noite aproxima-se
Os ralos despertam
Para trabalhar o silêncio

Leve brisa na noite
As árvores agitam-se
As estrelas cintilam

Um rochedo espreita
Na noite de estrelas
Procura a mãe

Praia

Dia de Sol na praia
O corpo espreguiça-se
O mar frio desperta

Corpos ao abandono
Chapéus de Sol
Vigiam protectores

A água está fria
O corpo espreita
A vontade mergulha

Deitados na praia
Camas de areia
Com vista para o mar

Banhos no mar
Abraços de água
Ondular de êxtase

Na onda que sobe
A praia despida
Oferece-se ao olhar

O Sol começa a pôr-se
É a vez do silêncio
Molhar os pés.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Verão

É Verão
O Sol queima
No refúgio das sombras

Faces suadas
Oferecem humidade
A um Sol sequioso

Ruas desertas
Abrasam ao calor
As árvores resistem

O Sol arde
Os montes ardem
Os homens vão morrendo

Dias quentes
Sentados à sombra
Os velhos dormitam

Noites de Verão
As ruas enchem-se
De refugiados do calor.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Anoitecer

O mistério do anoitecer
Das cores a fugir
A diluírem-se lentamente irremediavelmente
No azul escuro cada vez mais escuro
Dum céu salpicado de fogo
Adeus Sol até novo e seguro dia
Até um dia...

E caminho pela noite que avança
Final da tarde ou simples estação
Amanhã será novo dia
E o sol de novo tímido crescerá no horizonte
Que agora me incendeia o olhar.

Caminho nos carreiros estreitos onde o mistério cresce
As estrelas a Lua as cores fugidias
O manto escuro a crescer no horizonte
Navego num oceano que não distingo
Mas o fresco da brisa e as estrelas distantes
Dizem que o caminho é este
E sou a embarcação à busca do Sol
Que ruma onde o oceano deixa de estar
Lá onde o Sol se põe.

E todo o olhar fica pensativo à espera de novo dia
Até um dia...

Velhos

Passos de velho
O mundo em frente
Soa estranho

Olhos de velho
Vêm o perto
O longe está desfocado

Mãos de velho
Constroem o hoje
Com nostalgia do amanhã

Lágrimas de velho
Choram a saudade
Do dia seguinte

Rosto de velho
Olhos inchados
De tanto ver.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Praia

No calor da areia
Corpos escaldam
A olhar o mar

Crianças junto ao mar
Aprendem a brincar
Com o efémero

A criança berra
A mãe acorre
O pai olha o mar

Uma criança negra
Brinca com o Sol
Numa amizade antiga

Mãos dadas na praia
Deitados à sombra
Iludem o tempo

Sonhos de viajante
Numa pequena bóia
A enfrentar o mar

Praia

Gente à beira mar
Languidamente a olhar o mar
A sentir o Sol
Deitados ao abandono
Entregues à areia aos sons do vento
Ao ondular da maresia
De olhos semi-cerrados
De mãos dadas
De cabeças juntas
Ou sós
Debaixo de chapéus de cores
E entregues ao ipod
Mas sempre entregues ao Sol
O que acarecia
Que se devia temer mas se ama
Porque faz sentir bem
Porque aquece
E as mãos estão frias
Ávidas de apertar o calor
E abrem-se
E espreguiçam-se
Corpos ao Sol
Entregues ao mar
Junto da areia
À beira do mar
Entregues ao Sol
Entregues ao abandono

O dia termina
Como num sonho
Ficam as marcas quentes
Dum abraço
Que nuncas se deu.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Donaña

Planícies ressequidas
Um cavalo morto
Espera pela enxurrada

Nos campos ressequidos
A vida cavalga
Sobre cavalos mortos

Um coelho olha
Uma cegonha olha
Os turistas olham

Passa o carro
A ave que medita
É desalojada pela olhar

Levanta voo
No céu perde-se
A ave que dormitava

Na planície ressequida
Cheira-se o mar
Anseia-se pela água

Dunas

Longos areais refugiados entre dunas e mar
Uma garganta estreita um rio de aragem
Na areia passos e conchas e dedos frágeis
E um enorme espreguiçar de olhos no Sol

Caminhos escondidos dos mundos urbanos
Refúgio das sirenes gritos e ameaças
Recanto de mar e dunas amarelecidas
Fronteiras frágeis com a ternura do abraço

Caminham na praia entre dunas e mar
Corpos de lama areia água e Sol
Caminham na praia vestidos de Universo
Caminham na praia pedaços de Universo.

sábado, 6 de junho de 2009

Noite

Só ao pé das estrelas
De braço dado
Tímido
Arrebatado

É noite

Um silêncio de aragem
Luzes distantes
E o céu
Enorme
Meu

Carreiros insinuam-se
Reflectem a luz
Espelho de estrelas
Ao fundo
A noite

O encanto da noite
A desvendar estrelas
E eu
Só com elas
Enlaçado
Adormeço

Terra

Planeta louco a girar de espanto
Verdes luxuriantes e a vontade imensa de viver
Uma embriaguês de sentidos!

Um sinal de fogo no distante
Gritos de fendas a abrirem-se
As árvores tombam com estrondo
O céu perturbado rodopia e arrasa

Os homens são arrastados
E a terra a fértil terra escorre para os oceanos
Os desertos crescem e o fogo
Os prédios crescem e a fome

Planeta verde de sonho e vontade
Os homens chegaram de algures vão para algures
No chão as ruínas
De sonhos nunca satisfeitos

sábado, 30 de maio de 2009

À beira do mar

À beira do mar
As ondas frias
A areia quente
O céu ardente

À beira do mar
Ondas aproximam-se
Sem medo
Beijam os pés
Em segredo
E voltam ao mar
Com histórias
Para contar

À beira do mar
A aragem fresca
A maresia
As gaivotas gritam
As rochas resistem
A areia vai e vém
É assim foi assim será assim

À beira do mar
A eternidade
Junto a mim.

sábado, 16 de maio de 2009

Uma pedra rola
Sentimento branco
Desértico

Um grito de silêncio a brotar do chão
Uma pedra só
Rola

O caminho abre-se
O céu abre-se
O universo espreita
A pedra que rola
Um sentimento de pertença
Mãe e pai
Comovidos

A descoberta ao longe
Numa pedra que rola
Do elo que falta
Para tudo fazer sentido.

Fátima

Multidões arrastam-se
A esperança num milagre
Um novo contacto com a Luz
A que nos ilumina mas se furta
Para lá de todo o entendimento

E as vozes movem-se bem alto
Projectadas no céu nas nuvens que correm
Têm um destino marcado em cada sílaba
Um desejo encripetado em cada mensagem

Cantam em coro os que acreditam
Que escondida por detrás de uma breve sombra
A Mãe suprema de todas as preces e vontades
Possa enlevada escutar e trocar um olhar
O milagre dum encontro que ressuscita sentidos.

Mãos de tesoura

Mãos de tesoura
Farrapos cortados
A adornar coroas

Mãos de tesoura
Rasgam tristezas
Cozem carícias

Mãos de tesoura
Cortam poemas
Até à exaustão

Mãos de tesoura
O nada rasgado
A gerar mundos

segunda-feira, 27 de abril de 2009



Por detrás de uma janela verde de madeira apodrecida
Há recantos escondidos pelo pó e paredes em derrocada
Onde em dias de Sol ou noites de muita Lua
Ainda cantam as esperanças que um dia ali habitaram

As paredes estão rasgadas por sucalcos
Mas as telhas estão perfeitas num silêncio de espera
O abrigo seguro para os sonhos ainda escondidos
Pelos que partiram sem os poder levar

Naquela janela verde de uma casa que já não existe
Conversam eternas as mulheres de todo o sempre
Os que passam pela rua olham e suspiram
No olhar perpassa súbito um intenso sentimento de saudade.

Olhares errantes

Olhares errantes
Interrogam sinais
Procuram sentidos

Olhares errantes
Descobrem segredos
Que não vêm

Olhares errantes
Deambulam pelas ruas
Ávidos de vida

Olhares errantes
Penetram na noite
Lêem as estrelas

Olhares errantes
Embriagados em mundo
Gesticulam poemas

terça-feira, 21 de abril de 2009

Primavera

Céu de Primavera
As nuvens degladiam-se
Com o Sol à espreita

Dias de Primavera
Pingos de chuva
Arrastam o Sol

O Sol baila
Com a chuva
As flores aplaudem

Debaixo do telhado
Andorinhas no ninho
Eternizam a Primavera

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Caminhar distraído pelos portais do sonho
Pontapear ao de leve ou uma leve carícia
Todos as pedras olham respiram e suspiram
A eternidade é a longínqua espera doutra coisa

E os dias passam e no céu as estrelas olham
E os vulcões incendeiam-se e no céu as estrelas olham
E no céu sempre no céu igual para toda a vida
Há um imenso espelho onde todos os gestos se repetem

Deitados pela planície perdidos no deserto ou simplesmente errantes
Os homens esperam sinais que desconhecem palavras que não comprendem
Esperam a olhar o céu a olhar o mar a olhar os olhos
Num imenso bailado de espelhos numa esfera a rodar louca e sem destino.

sábado, 18 de abril de 2009

Olhos postos na descoberta
Há uma história que se murmura baixinho
E nas sombras deslizam audazes
Os que procuram desvendar os mistérios das almas.

E penetram nas frondosas florestas onde é sempre crepúsculo
E todas as vozes soam muito baixo sussurros suspiros
Suspeitam de cada tronco interrogam cada ramo
É sempre o vento a resposta ou pensa-se ser o vento
A brisa tem o sabor dos tempos distantes
E a forma como afaga recorda o arrepio das despedidas.

Mas são sombras e ramos e caminhos e sombras
E o ar que se agita sem vento e as águas dum rio que se não vê
E leves murmúrios a romper talvez das pedras talvez
Caminham inquietos os que procuram desvendar os mistérios das almas.

sexta-feira, 17 de abril de 2009


São imensos os caminhos
Mas os olhos convergem para o mais estranho
Para a pequena teia onde tudo se confunde e aniquila
E preso o olhar perdeu o Universo
Debatendo-se numa qualquer armadilha que incessantemente procurou.

Mar

Chegou à foz
Morreu o rio
Que sonhou

Sobre o mar
O céu em fogo
As nuvens acodem

Ondas altivas
Provocam o olhar
Lançam-se aos pés

Olhos à janela
Pregados no mar
Iniciam viagens

Um barco ao longe
O mar embala-o
Com histórias sem fim

O mar ao pés
No espelho de água
Descubro-me marítimo

Noite no mar
As estrelas precipitam-se
Encantadas pelas ondas

A melodia das ondas
Enche a praia
De universo

Mar imenso
Os olhos fecham-se
Para ver mais longe

Cais de pescadores
O mar ao lado
Cúmplice no destino

Gritam na praia
Mulheres de negro
A adivinhar tempestades

Canas na mão
Pescam emoções
E talvez peixes

Pôr do Sol
Hora das estrelas
Se banharem

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Terramoto

A terra profunda geme
E as casas balançam as paredes caiem os homens gritam

Na profundidade mais escura no segredo mais absoluto
Movem-se gigantes adormecidos
E os homens despertam ameaçados
As paredes cedem as ruas abrem os choros são engolidos

A terra treme a bola redonda o milagre verde na aridez do universo
E todo o sentido se perde
Toda a natureza corre em direcções de aflição
O espaço que resta é só interrogação
O destino é o pó de uma terra revolta

Terramotos tremendos esmagam os espelhos
Onde os homens se miram e remiram
A voz da terra a fazer-se ouvir
Ou simplesmente a exigir um olhar